De tempos em tempos surgem novas técnicas ou tecnologias que prometem
ser o novo diferencial de competitividade. Muitas dessas novidades aparecem sob
a forma de siglas ou pomposos nomes em inglês. Algumas poucas resistem ao tempo
como verdadeiras inovações. A grande maioria não passa de um tipo de modismo do
universo corporativo, modismo que por sinal é bastante útil para venda de
livros e consultoria.
Nesse artigo prefiro falar sobre a boa e velha gestão dos estoques, atividade sem glamour e muitas vezes deixada em segundo plano pelas empresas. Não tenho aqui a pretensão de escrever um tratado sobre estoques, mas me dou por satisfeito se a leitura desse artigo gerar uma reflexão sobre o assunto.
1. Estoque é para os craques: Estoque é dinheiro, e
para muitas empresas é muito dinheiro e em constante movimentação. Erros nos
estoques causam perdas de venda, paradas de produção, atrasos, erros de
programação, etc. Bons profissionais de estoques são metódicos, rigorosos,
detalhistas, confiáveis... Estoque não é lugar para cabeça de bagre.
2. Padronize itens e descrições: Quem nunca descobriu
um mesmo item cadastrado duas vezes em códigos diferentes? Isso gera excesso de
estoque e erros. Crie descrições padronizadas e elimine as redundantes. E
consolide o saldo dos itens nas descrições corretas. Fazer só isso já é um bom
começo...
3. Programa de acuracidade dos estoques: Esqueça os
inventários gerais. São caros, trabalhosos, tomam tempo e não nos ajudam na
melhoria dos processos. O inventário rotativo feito pela própria equipe do
almoxarifado permite a medição diária da acuracidade dos estoques e a
investigação e correção dos erros e suas causas. O programa de acuracidade dos
estoques é um processo de melhoria contínua.
4. Zoneamento: Se possível, defina pessoas fixas por
cada área do estoque. Cada um cuida da sua área, dos seus itens, do seu
inventário rotativo. Na prática, uma área com vários donos não tem dono nenhum.
5. Gestão da demanda: Esse é um dos itens mais
negligenciados pelas empresas. A análise periódica das demandas vai
permitir o recálculo dos parâmetros de planejamento: Médias de consumo, ponto
de pedido, estoque de segurança, etc.
6. Pense em cobertura: Não pense em quantidades, pense
em cobertura. De que importa saber que o saldo do item A é 1.000 unidades e o
do item B é 5.000 unidades. Melhor saber que o item A tem 10 dias de estoque e
o item B tem 2 dias de estoque. Cobertura é igual a saldo dividido por demanda
(em consumo por dia). Não sabe a demanda? Volte para o item 5... Depois de
fazer os cálculos, ordene os itens da menor para a maior cobertura. Se preocupe
com os extremos da tabela, ou seja, os itens sem cobertura ou os itens com
cobertura excessiva.
7. Nível de serviço: Como anda o atendimento do
estoque? Para responder tem que medir. A medição clássica é o número de
solicitações atendidas dividido pelo número total de solicitações x 100%. Uma
forma rápida e simplificada é dividir o número de itens com saldo (saldo >
0) pelo número de itens totais x 100%. A medição do nível de serviço vai
direcionar a revisão dos parâmetros de planejamento.
8. Organize o almoxarifado levando em conta a movimentação:
Multiplique o custo dos itens pela média de consumo mensal (não sabe o consumo?
Volte para o item 5...). Ordene do maior para o menor e identifique quem é
importante e quem é irrelevante. Organize fisicamente o almoxarifado para
facilitar a movimentação dos itens mais importantes – próximos da
entrada/saída, na parte mais acessível das prateleiras, etc.
9. Localização e separação em ondas: Um bom controle
de localização dos itens vai permitir a otimização do processo de picking
(separação) com a técnica de separação em ondas. Essa técnica consiste no
agrupamento dos itens dos pedidos para geração de uma listagem otimizada de
separação, ordenada pelos endereços. A separação assim é mais produtiva e os
pedidos são agrupados depois na área de packing (fechamento e embalagem
dos pedidos).
10. Automação: Se os itens e os endereços têm códigos
de barras, já é possível ter todo o comando do processo de armazenagem,
separação, movimentações internas e inventários comandado por coletores ou até
smartphones. Isso reduz tempo e erros. Em grandes armazéns esse processo pode
ser ainda mais otimizado com sistemas WMS – Warehouse Management System.
11. Saneamento dos estoques: De tempos em tempos
separe os materiais obsoletos, inservíveis ou sem movimentação nos últimos
meses ou anos. Faça uma promoção, feirinha para funcionários, recicle, venda
como sucata, jogue fora, enfim... dê um destino. Muitas vezes a gente se
surpreende com o espaço liberado e os valores apurados num saneamento de estoques.
Espero que esse artigo sobre gestão de estoques tenha sido útil. Se precisar de uma mãozinha para rever seus processos, peça ajuda. Esse é o meu trabalho.
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